"A Fé é um salto do escuro para os braços de Deus. Quem não salta, não vê a Deus, não é abraçado, fica apenas no escuro." (Desconhecido)

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Papa Bento XVI (Cardeal Joseph Ratzinger)


Biografía

O Cardeal Joseph Ratzinger nasceu em 16 de abril de 1927, um Sábado Santo em Marktl am Inn, diocese de Passau, Alemanha; e foi batizado esse mesmo dia. Em suas memórias, refletindo sobre o fato, diz: “ser a primeira pessoa a ser batizada na Água Nova da Páscoa era visto como um ato muito significativo por parte da Providência. Sempre me enchi que sentimentos de gratidão por ter sido imerso no Mistério Pascal desta maneira;...quanto mais o reflito, tanto mais me parece apropriado à natureza de nossa vida humana: ainda esperamos a Páscoa definitiva,ainda não estamos na plenitude da luz, mas caminhamos na sua diração cheios de confiança.”
Para Ratzinger se torna difícil dizer qual é propriamente seu povo natal. Pelo fato de seu pai ter sido membro da polícia rural, era freqüentemente transladado, e toda a família junto com ele, assim , muitas vezes tiveram que mudar-se.
Em 1929 a família Ratzinger se muda a Tittmoning, pequeno povo à beira do Rio Salzach, na fronteira com a Austria.
Em dezembro de 1932, devido à aberta crítica que seu pai fazia ao nacional-socialismo, a família Ratzinger se vê obrigada a mudar-se a Auschau am Inn, ao pé dos Alpes.
Em 1937 o pai do Cardeal Ratzinger passa ao retiro e se muda com toda a família a Hufschlag, nos subúrbios da cidade do Traunstein, onde Josef passaria a maior parte de seus anos de adolescencia. É aqui onde inicia seus estudos no Ginásio de línguas clássicas, e aprende Latim e Grego.
Em 1939 entra no seminário menor de Traunstein, dando o primeiro passo na sua carreira eclesiástica.
Em 1943, ele e todos seus companheiros de classe são recrutados ao FLAK (esquadrão anti-aéreo do exército alemão), entretanto, lhes é permitido assistir nas aulas três vezes por semana.
Em setembro de 1944, Ratzinger é relevado do FLAK e retorna a casa. Em novembro passa pelo treinamento básico na infantaria alemã, mas devido a seu pobre estado de saúde, é excetuado de boa parte dos rigores próprios da vida militar.
Na primavera de 1945, enquanto se aproximam as forças aliadas, Ratzinger deixa o exército e retorna a sua casa em Traunstein. Quando finalmente chega o exército americano até sua cidade, e estabelecem seu centro de operações em casa dos Ratzinger, e identificando a Josef como soldado alemão, enviam-no a um campo de prisioneiros de guerra.
Em 19 de junho desse mesmo ano é liberado e retorna ao lar em Traunstein, segue-o seu irmão Georg em julho.
Em novembro, tanto ele como seu irmão mais velho Georg, retornam ao seminário.
Em 1947 Ratzinger ingressa no Herzogliches Georgianum, um instituto teológico ligado à Universidade do Munique.
Em 1951, em 29 de junho, Josef e seu irmão Georg são ordenados sacerdotes pelo Cardeal Faulhaber na catedral de Freising, na Festa dos Santos Pedro e Pablo.
Desde 1952 até 1959, é membro da Faculdade da Escola Superior de Filosofia e Teologia, em Freising.
Em 1953 recebe seu doutorado em teologia pela Universidade de Munique. Relacionado com o doutorado, publica seu primeiro trabalho importante:”Volk und Haus Gottes in Augustins Lehre von der Kirche” (O Povo e a Casa de Deus na doutrina do Agostinho sobre a Igreja). Ratzinger dedica seu “Habilitationsschrift” – trabalho original de contribuição à investigação, com a finalidade de habilitar-se para a docência universitária – à revelação e à teologia da história de São Boaventura.
Em abril de 1959 Ratzinger se inicia como Professor Principal do teologia fundamental na Universidade de Bonn. Em agosto desse ano, seu pai é convocado à Casa de Deus. De 1962 a 1965 assiste às quatro sessões do Concílio Vaticano II em qualidade de perito, como conselheiro teológico principal do Cardeal Frings de Colônia.
Em 1963 se translada à Universidade de Münster, e em dezembro desse ano, falece sua mãe.
Em 1966 é nomeado professor de teologia dogmática na universidade de Tübingen. Sua nomeação é fortemente apoiada pelo professor Hans Küng. Ratzinger tinha conhecido inicialmente ao Kung em 1957 em um congresso de teologia dogmática em Innsbruck. Logo depois de revisar o trabalho doutoral do Küng sobre Karl Barth, diz Ratzinger: “Tinha muitas perguntas que lhe fazer a respeito deste livro, pois, apesar de que seu estilo teológico não era o meu, tinha-o lido com prazer e o autor me tinha suscitado respeito, pois tinha gostado muito da sua abertura e retidão . Assim se estabeleceu uma boa relação de amizade, ainda quando pouco depois...uma séria discussão começou entre nós a respeito da teologia conciliar.”
Em 1968 um onda de levantamentos de estudantes varreu a Europa, e o marxismo rapidamente se converteu no sistema intelectual dominante em Tübingen, doutrinando não apenas a boa parte de seus estudantes, mas inclusive ao corpo docente. Sendo testemunha desta subordinação da religião à ideologia política marxista, Ratzinger anota: Existia uma instrumentalização por parte das ideologias que eram tirânicas, brutais e cruéis. Essa experiência me deixou claro que o abuso contra a fé devia ser precisamente resistido se queria manter o querer do Concílio.
Em 1969, desencantado por seu encontro com a ideologia radical de Tübingen, translada-se de volta até a Bavária, onde assume um posto de professor na Universidade de Regensburg. Logo é nomeado Decano e Vice-presidente. Esse ano tambien é nomeado Conselheiro Teológico dos Bispos alemães.
Em 1972, Ratzinger, von Balthasar, Do Lubac e outros lançam a publicação teológica Communio, une revista periódica de teologia católica e cultura.
Em março de 1977, é renomado Arcebispo do Munique e Freising, convertendo-se no primeiro sacerdote diocesano que logo depois de 80 anos, assumia o encargo de tão vasta e importante arquidiocese. É urgido por seu confessor a aceitar o cargo e escolhe como seu lema episcopal a frase da 3 carta do João, “Cooperadores da verdade”, e raciocina: “Por um lado, parecia-me ser a relação entre minha tarefa prévia como professor e minha nova missão. Apesar de todas as diferenças de modo, o que estava em jogo e continuava a estar, era seguir à verdade, estar a seu serviço. E por outro lado, porque no mundo de hoje, o tema da verdade desapareceu quase totalmente, pois aparece como algo grande demais para o homem, e entretanto, tudo se desmorona se falta a verdade”. É consagrado em 28 de maio pelo Bispo de Würzburg, Josef Stange. Em junho desse mesmo ano, é criado cardeal presbítero pelo Papa Paulo VI, e recebe o título de S. Maria Consolatrice ao Tiburtino. Esse ano também, assistiu a IV Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, no Vaticano.
Em 1978 participou do conclave que escolheu a João Paulo I, quem o nomeia enviado especial do Papa para o III Congresso Mariológico Internacional, em Guaiaquil, Equador. Em outubro desse ano, participa do Conclave que escolhe ao Papa Juan Pablo II.
Em 1980 Ratzinger é nomeado por João Paulo II Presidente do Sínodo especial para os leigos. Pouco depois, o Papa o convida a encarregar-se da Congregação para a Educação Católica. Ratzinger declina, pois considera que não deve deixar tão logo sua missão em Munique.
Em 1981, em novembro, aceita o convite do Papa para assumir como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica, e Presidente da Comissão Teológica Internacional.
Em 15 de fevereiro de 1982 renunciou ao governo pastoral da Arquidiocese de Munique-Freising,.
Em 1983 assistiu à VI Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano. Foi um dos três presidentes delegados; membro do secretariado geral, de 1983 a 1986.
Em 1985 assistiu a II Assembléia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, Cidade do Vaticano.
Desde 1986 presidiu a Comissão para a preparação do Catecismo da Igreja Católica, que logo depois de 6 anos de trabalho (1986-92) apresentou o Novo Catecismo ao Santo Padre.
Em 1987 assistiu a VII Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano.
Em 1990 assistiu a VIII Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano.
Em 1991 assistiu ao I Assembléia Especial para a Europa do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano.
Em 1993 foi elevado a Cardeal Bispo do título da sede suburbicaria do Velletri-Segni. Em 1994 assistiu à Assembléia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Cidade do Vaticano, e a IX Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, também na Cidade Vaticano.
Em 1997 assistiu à Assembléia Especial para a América do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano
Em 1998 assistiu à Assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano.
Eleito vice-decano do Colégio dos Cardeais, em 9 de novembro de 1998.
Esse mesmo ano, assistiu à Assembléia Especial para a Oceania do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano, de 22 de novembro aos 12 de dezembro.
Em 1999 foi enviado especial do Papa às celebrações pelo XII centenário da criação da diocese de Paderborn, Alemanha, em 3 de janeiro.
Em outubro desse mesmo ano assistiu a II Assembléia Especial para a Europa do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano,
Em novembro de 2002, o Santo Padre aprova sua eleição como Decano do Colégio dos Cardeais.
Até a morte de João Paulo II era membro da Secretaria de Estado; das Congregações para as Igejas Orientais, Culto Divino e Sacramentos, Bispos, Evangelização dos povos, Educação católica; assim como dos Pontifícios Conselhos para a Unidade dos cristãos e do de Cultura; das Comissões para a América Latina e Ecclesia Dei.
Recebeu por encargo do Santo Padre, a reflexão da Via Sacra durante a Semana Santa de 2005

Doutorados:

•1984 Doutor Honoris Causa pelo College of St. Thomas in St. Paul / Minnesota
•1985 Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica do Eichstätt
•1986 Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica de Lima
•1986 Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Telogia Pontifícia e Civil de Lima
•1988 Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica do Lublin.
•1998 Doutor Honoris Causa pela Universidade da Navarra na Pamplona.
•1999 Doutor Honoris Causa pela Uiversidad Livre Maria SS Assunta (LUMSA) em Roma.
•2000 Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Teologia da Universidade do Wroclaw

TITULO

Prefeito Emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, Presidente Emérito da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, Ex Decano do Colégio Cardinalício.

Nascimento: Nasceu em 26 de abril de 1927, Marktl, diocese de Passau, Alemanha.

Educação: Estudiou na Escola Superior de Filosofia, em Freising; e na Universidade de Münich, em Münich (doutorado em teologia).

Sacerdócio: Ordenado sacerdote em 29 de junho de 1951. Continuou seus estudos de 1951 a 1952. Membro da Faculdade da Escola Superior de Filosofia e Teologia, em Freising, de 1952 a 1959; na Universidade de Bonn, de 1959 a 1963; na

Universidade de Münster, de 1963 a 1969; na Universidade de Tübingen, de 1966 a 1969; na Universidade de Ratisbona, de 1969 a 1977; vice-presidente da Universidade de Ratisbona, de 1969 a 1977; perito, no Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965. Membro da Comissão Teológica Internacional, de 1969 a 1977.

Episcopado: Eleito Arcebispo de Münich e Freising, em 24 de março de 1977. Consagrado, em 28 de maio de 1977, em Münich, por Josef Stange, Bispo de Würzburg.

Cardinalato: Criado Cardeal presbítero, em 27 de junho de 1977; recebeu o barrete vermelho e o título de S. Maria Consolatrice al Tiburtino, em 27 de junho de 1977. Assistiu à IV Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, Cidade do Vaticano, de 30 de setembro a 29 de outubro de 1977. Participou do conclave de 25 a 26 de agosto de 1978. Enviado especial do Papa ao III Congresso Mariológico Internacional, em Guayaquil, Equador, de 16 a 24 de setembro de 1978. Participou do conclave de 14 a 16 de outubro de 1978. Assistiu à V Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, Cidade do Vaticano, de 26 de setembro a 25 de outubro de 1980; foi o relator geral; membro do secretariado geral, de 1980 a 1983. Nomeado prefeito da S.C. para a Doutrina da Fé, presidente da Pontifícia Comissão Bíblica, e presidente de Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981. Renunciou ao governo pastoral da Arquidiocese, em 15 de fevereiro de 1982. Assistiu a VI Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, na Cidade do Vaticano, de 29 de setembro a 28 de outubro de 1983; foi um dos três presidentes delegados; membro do secretariado geral, de 1983 a 1986. Assistiu a II Assembléia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, Cidade do Vaticano, de 24 de novembro a 8 de dezembro 1985; membro do secretariado geral até 1987. Assistiu à VII Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, na Cidade do Vaticano, de 1 a 30 de outubro de 1987; membro do secretariado geral, de 1987 a 1990. Assistiu à VIII Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, na Cidade do Vaticano, de 30 de setembro a 28 de outubro de 1990; membro do secretariado geral, de 1990 a 1994. Assistiu à I Assembléia Especial para a Europa do Sínodo dos Bispos, na Cidade do Vaticano, de 28 de novembro a 14 de dezembro de 1991. Nomeado Bispo do título da sé suburbicária de Velletri-Segni, em 5 de abril de 1993. Assistiu à Assembléia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, Cidade do Vaticano, de 10 de abril a 8 de maio de 1994; a IX Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, na Cidade Vaticano, de 2 a 29 de outubro de 1994. Assistiu à Assembléia Especial para a América do Sínodo dos Bispos, na Cidade do Vaticano, de 16 de novembro a 12 de dezembro de 1997; Assistiu à Assembléia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano, de 19 de abril a 18 de maio de 1998. Eleito vice-decano do Colégio de Cardeais, em 9 de novembro de 1998. Assistiu à Assembléia Especial para a Oceania de Sínodo dos Bispos, na Cidade do Vaticano, de 22 de novembro a 12 de dezembro de 1998. Foi enviado especial do Papa às celebrações pelo XII centenário da criação da diocese de Paderborn, Alemanha, em 3 de janeiro de 1999. Assistiu a II Assembléia Especial para a Europa do Sínodo dos Bispos, na Cidade do Vaticano, de 1 a 23 de outubro de 1999.Bibliografia. Ratzinger, Joseph. Milestones. Memoirs: 1927-1977. San Francisco: Ignatius Press, 1998.

Informação adicional: Na Cúria Romana, é membro da Secretaria de Estado; Sagradas Congregações para as Igrejas Orientais; Culto Divino e Sacramentos, Bispos, Evangelização dos povos; Educação católica; Pontifício Conselho para a Unidade dos cristãos, Cultura; e das Comissões para América Latina e Ecclesia Dei.

Recebeu por encargo do Santo Padre, a reflexão da Via Sacra durante a Semana Santa de 2005.

Bibliografia: Introdução ao Cristianismo; Informe sobre a Fé; Um Olhar à Europa; Sal da Terra; Minha Vida. Memórias: 1927-1977; Cooperadores da Verdade; Verdade e Tolerância; O Espírito da Liturgia; etc.

Pontificado: Foi eleito Pontífice em 19 de abril de 2005. Escolheu o nome de Bento XVI.

Publicações
Documentos de caráter doutrinal

•Notificação sobre o livro "Jesus Symbol of God" do Padre Roger Haight, S. J., 13 de dezembro de 2004
•Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo, 31 de julho de 2004
•Considerações sobre os projectos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, 31 de julho de 2003
•Nota doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política, 16 de janeiro de 2003
•Comentário do Cardeal Meisner, Significado e atualidade do documento, 16 de janeiro de 2003
•Comentário do Cardeal Giacomo Biffi, Cultura católica para um verdadeiro humanismo, 16 de janeiro de 2003
•Nota sobre o valor dos Decretos doutrinais relativos ao pensamento e às obras do Padre Antônio Rosmini Serbati, 1° de julho de 2001
•Notificação sobre alguns escritos do R.P. Marciano Vidal, C.Ss.R. (Notificatio super quibusdam scriptis Marciani Vidal), 22 de fevereiro de 2001
•À margem da Notificação sobre alguns escritos do R.P. Marciano Vidal, C.Ss.R., 15 de maio de 2001
•Notificação a propósito do livro do Pe. Jacques Dupuis, S.J. «Para uma teologia cristão do pluralismo religioso», 24 de janeiro de 2001
•Artigo ilustrativo da Notificação a propósito do livro de J. Dupuis: "Para uma teologia cristã do pluralismo religioso" (12 de março de 2001)
•Notificação sobre algumas publicações do professor Dr. Reinhard Meßner, (Notifikation bezüglich einiger Veröffentlichungen von Professor Dr. Reinhard Meßner), 30 de novembro de 2000
•Instrução sobre as orações para alcançar de Deus a cura – Ardens felicitatis (Instructio de orationibus ad obtinendam a Deo sanationem), 14 de setembro de 2000
•Declaração sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja – Dominus Iesus (Declaratio de Iesu Christi atque Ecclesiae unicitate et universalitate salvifica), 6 de agosto de 2000
•Apresentação à Imprensa da Declaração «Dominus Iesus», 5 de setembro de 2000
•Declaração sobre a expressão «Igrejas Irmãs», 30 de junho de 2000
•Documentos sobre “A Mensagem de Fátima”, 26 de junho de 2000
•Notificação sobre os escritos e as atividades de Sr. Jeannine Gramick, S.N.D. e do Pe. Robert Nugent, S.D.S. (Notification regarding Sister Jeannine Gramick, ssnd, and Father Robert Nugent, sds), 31 de maio de 1999
•Considerações «O Primado do sucessor de Pedro no mistério da Igreja», 31 de outubro de 1998
•Fórmula a ser usada para a profissão de fé e o juramento de fidelidade ao assumir um ofício a ser exercido em nome da Igreja com Nota doutrinal ilustrativa da fórmula conclusiva da “Professio fidei” (Professio fidei et Iusiurandum fidelitatis in suscipiendo officio nomine Ecclesiae exercendo una cum nota doctrinali adnexa), 29 de junho de 1998
•Notificação sobre os escritos do Pe. Anthony De Mello, S.J. (Notificatio circa scripta Patris Antonii De Mello, S.I.), 24 de junho de 1998
•Notificação sobre a obra «Mary and human liberation» do Pe. Tissa Balasuriya, O.M.I., 2 de janeiro de 1997
•Notificação sobre os escritos e a atividade da Senhora Vassula Ryden (Notificatio de scriptis et operibus dominae Vassulae Ryden), 6 de outubro de 1995
•Respostas às dúvidas propostas sobre o «isolamento uterino» e outras questões (Responsa ad proposita dubia circa «interclusionem uteri» et alias quaestiones), 31 luglio 1993
•Algumas considerações ligadas a Resposta a propostas de lei sobre a não discriminação das pessoas homossexuais (Some Considerations Concerning the
•Response to Legislative Proposals on Non-discrimination of Homosexual Persons), 23 de julho de 1992
•Decreto sobre a doutrina e os usos da Associação «Opus Angelorum» (Decretum de doctrina et usibus particularibus consociationis cui nomen «Opus Angelorum»), 6 de junho de 1992
•Carta sobre alguns aspectos da Igreja entendida como comunhão – Communionis notio (Litterae ad Catholicae Ecclesiae episcopos de aliquibus aspectibus Ecclesiae prout est communio), 28 de maio de 1992
•Instrução sobre alguns aspectos do uso dos instrumentos de comunicação social na promoção da doutrina da fé – O Concílio Vaticano II, 30 de março de 1992
•Nota referente ao livro «The Sexual Creators, An Ethical proposal for Concerned Christians» (University Press of America, Lanham-New York-London 1986) do Pe. André Guindon, O.M.I., 31 janeiro de 1992
•Instrução sobre a vocação eclesial do teólogo – Donum veritatis (Instructio de Ecclesiali Theologi vocatione), 24 de maio de 1990
•Carta sobre alguns aspectos da meditação cristã – Orationis formas (Epistula ad totius Catholicae Ecclesiae Episcopos de quibusdam rationibus christianae meditationis), 15 de outubro de 1989
•Nota referente a «A norma moral de “Humanae vitae” e a a tarefa pastoral» de 16 de fevereiro de 1989
•Observações sobre o documento da ARCIC II «A salvação e a Igreja» (Observations on ARCIC II’s «Salvation and the Church»), 18 novembre1988
•Fórmula a ser usada para a profissão de fé e o juramento de fidelidade ao assumir um ofício a ser exercido em nome da Igreja (Professio fidei et Iusiurandum fidelitatis in suscipiendo officio nomine Ecclesiae exercendo), 1° de julho de 1988
•Instrução sobre o respeito da vida humana nascente e a dignidade da procriação – Donum vitae (Instructio de observantia erga vitam humanam nascentem deque procreationis dignitate tuenda. Responsiones ad quasdam quaestiones nostris temporibus agitatas), 22 de fevereiro de 1987
•Carta sobre a cura pastoral das pessoas homossexuais – Homosexualitatis problema (Epistula de pastorali personarum homosexualium cura), 1° de outubro de 1986
•AAS 79 (1987) 543-554; DeS 11 (1995)
•OR 31.10.1986, 5 [Ital.];CivCat 137 (1986) 4, 367-376; EV 10, 666-693; LE 5206; Dokumenty, II, 18
•Notificação sobre o livro «Pleidooi voor mensen in de Kerk» (Nelissen, Baarn 1985) do prof. Edward Schillebeeckx, O.P., 15 de setembro de 1986
•Carta a György Bulányi sobre alguns escritos que lhe são atribuídos, 1° de setembro de 1986
•Carta referente a suspensão de Carlo Curran do ensino de Teologia (Epistula R. D. Carlo Curran, Vasingtoniae degenti, missa), 25 de julho de 1986
•Instrução sobre a liberdade cristã e a libertação – Libertatis conscientia (Instructio de libertate christiana et liberatione), 22 de março de 1986
•Notificação sobre o livro «Igreja: Carisma e poder. Ensaio de Eclesiologia militante» do Pe. Leonardo Boff, O.F.M., 11 março de 1985
•Instrução sobre alguns aspectos da «Teologia da Libertação » – Libertatis nuntius (Instructio de quibusdam rationibus «Theologiae Liberationis»), 6 de agosto de 1984
•Carta ao Pe. Edward Schillebeeckx sobre o seu livro «Kerkelijk Ambt» («O ministério na Igreja», 1980),13 de junho de 1984
•Decisões sobre a tradução do artigo «Carnis resurrectionem» do Símbolo Apostólico, 14 de dezembro de 1983
•Carta ao Cardeal Ioseph Höffner, Arcebispo de Colônia, sobre a «Opus Angelorum» (Epistula Em.mo ac Rev.mo Domino Iosepho Card. Höffner, Archiepiscopo Colonien., missa: De peracto examine circa “Opus Angelorum”), 24 de setembro de 1983
•Notificação sobre o Rev. Georges de Nantes (Notification à propos de l’abbé Georges de Nantes), 13 de maio de 1983
•Observações sobre o relatório final da ARCIC (Animadversiones quas Sacra Congregatio pro Doctrina Fidei, de mandato SS.mi super enuntiatis ultimis
•Commissionis vulgo ARCIC cognominatae, de Eucharistica doctrina, de sacris Ordinibus atque de subiecto auctoritatis in Ecclesia, exaravit et omnibus Conferentiis Episcoporum die 2 Aprilis transmisit), 27 de março de 1982
•Carta ao R. P. D. Alan C. Clark referente ao relatório final da ARCIC (Epistula quam Praefectus Sacrae Congregationis pro Doctrina Fidei Em.mus P.D. Iosephus
•Cardinalis Ratzinger, ob editam relationem finalem a Commissione, cui vulgo nome “Anglican Roman Catholic International Commission” [ARCIC], compraesidi eiusdem Commissionis, R.P.D. Alano C. Clark, episcopo Angliae Orientalis, die 27 martii 1982 scripsit), 27 de março de 1982
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Documentos de caráter disciplinar

•Carta aos Bispos e aos Ordinários e Hierarcas da Igreja Católica interessados sobre os delitos mais graves reservados à Congregação para a Doutrina da Fé (Epistula ad totius Catholicae Ecclesiae Episcopos aliosque Ordinarios et Hierarchas interesse habentes de delictis gravioribus eidem Congregationi pro Doctrina Fidei reservatis), 18 de maio de 2001
•Motu Proprio “Sacramentorum sanctitatis tutela”, referente às normas sobre os delitos mais graves reservados à Congregação para a Doutrina da Fé (30 de abril de 2001)
•Declaração sobre a «Igreja Clandestina» na República Tcheca, 11 de fevereiro de 2000
•BollSalaSt 11/02/2000; RegnoDoc 5/2000, 166-167
•Regulamento a seguir no exame das doutrinas - Agendi Ratio (Agendi ratio in doctrinarum esamine), 30 de maio de 1997
•Carta aos Ordinários referente às normas sobre os exorcismos (Epistula Ordinariis locorum missa: in mentem normae vigentes de exorcismis revocantur), 29 de setembro de 1985
•Declaração sobre as associações maçônicas (Declaratio de associationibus massonicis), 26 de novembro de 1983
•Incompatibilidade entre fé cristã e maçonaria - Reflexões a um ano da Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé , 23 de fevereiro de 1985
•Resposta às dúvidas sobre a interpretação do Decreto «Ecclesiae Pastorum» (Responsa ad proposita dubia de interpretatione decreti «Ecclesiae Pastorum»), 7 de julho de 1983
•Notificação com a qual declaram-se novamente as penas canônicas incursas ao Arcebispo Pierre-Martin Ngô-dinh-Thuc e cúmplices pelas ordenações ilícitas de presbíteros e bispos (Notificatio qua poenae canonicae Episcopis qui illicite alios episcopos ordinaverunt illisque hoc modo illegitimo ordinatis denuo comminantur), 12 de março de 1983
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Documentos de matéria sacramental

Batismo

•Resposta à Dúvida proposta sobre a validade do batismo conferido pela «A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias», dita «Mórmons» (Responsum ad propositum dubium de validitate baptismatis apud communitatem «The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints»), 5 de junho de 2001
•Notificação sobre a validade do batismo conferido pela «The New Church»(Notificatio de validitate baptismatis apud «The New Church» confessionem collati), 20 de novembro de 1992

Eucaristia

•Carta circular aos Presidentes das Conferências Episcopais sobre o uso do pão com pouca quantidade de glúten e do mosto como matéria eucarística, 19 de junho de 1995
•Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a recepção da comunhão eucarística por fiéis divorciados novamente casados - Annus Internationalis Familiae (Epistola ad Catholicae Ecclesiae Episcopos de receptione communionis eucharisticae a fidelibus qui post divortium novas inierunt nuptias), 14 de setembro de 1994
•Carta sobre algumas questões referentes ao ministro da Eucaristia – Sacerdotium ministeriale (Epistola ad Ecclesiae Catholicae Episcopos de quibusdam quaestionibus ad Eucharistiae ministrum spectantibus), 6 de agosto de 1983
•Respostas sobre a comunhão eucarística do celebrante «por intinção» e dos fiéis sob somente a espécie do vinho (Responsa ad proposita dubia de celebrantis communione «per intinctionem» et fidelium communione sub sola specie vini), 29 ottobre 1982

Penitência

•Decreto sobre a excomunhão aos que divulgam as confissões (Decretum de sacramenti Paenitentiae dignitate tuenda), 23 de setembro de 1988

Ordens sagradas

•Resposta sobre a doutrina da Carta Apostólica “Ordinatio Sacerdotalis” (Responsum ad dubium circa doctrinam in Epist. Ap.“Ordinatio Sacerdotalis” traditam), 28 de outubro de 1995
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Alguns discursos e intervenções do Cardeal Joseph Ratzinger

•Homilia do Cardeal Joseph Ratzinger por ocasião do 40° aniversário da Constituição Pastoral Gaudium et Spes (18 de março de 2005)
•Homilia do Cardeal Joseph Ratzinger na celebração das exéquias de Monsenhor Giussani (24 de fevereiro de 2005)
•Homilia do Cardeal Joseph Ratzinger, em nome do Santo Padre, na celebração das exéquias do Cardeal Corrado Bafile (5 de fevereiro de 2005)
•Homilia do Cardeal Joseph Ratzinger aos membros da Pontifícia Academia das Ciências em Montecassino (7 de novembro de 2004)
•Homilia do Cardeal Joseph Ratzinger durante a celebração da Santa Missa para o XXVI da morte dos Sumos Pontífices Paulo VI e João Paulo I (28 de setembro de 2004)
•Saudação do Cardeal Joseph Ratzinger durante a audiência de João Paulo II aos Membros da Pontifícia Comissão Bíblica por ocasião da Assembléia Plenária anual (20 de abril de 2004)
•Saudação do Cardeal Ratzinger, em nome da Cúria Romana, ao Santo Padre por ocasião do Natal de 2003 (22 de dezembro de 2003)
•Discurso do Cardeal Ratzinger no início do concerto da Orquestra Mitteldeutscher Rundfunk por ocasião do XXV Aniversário de Pontificado (17 de outubro de 2003)
•Saudação no início da Solene Celebração Eucarística por ocasião do XXV aniversário de Pontificado de João Paulo II (16 de outubro de 2003)
•Discurso do Cardeal Ratzinger na abertura do Congresso sobre os aspectos doutrinais e pastorais do Pontificado de João Paulo II, promovido pelo Colégio
•Cardinalício por ocasião do XXV aniversário de Pontificado (15 de outubro de 2003)
•Mensagem de felicitações ao Santo Padre pelo seu 83° aniversário (18 de maio de 2003)
•Reflexão do Cardeal Joseph Ratzinger - A relação entre o Magistério da Igreja e exegese (10 de maio de 2003)
•Discurso do Cardeal Joseph Ratzinger na apresentação do novo livro de poesias de João Paulo II "Tríptico romano - Meditações" (6 de março de 2003)
•Saudação do Cardeal Joseph Ratzinger - Novo decano do Colégio Cardinalício (21 de dezembro de 2002)
•Discurso do Cardeal Joseph Ratzinger no Congresso Catequético Internacional (9 de outubro de 2002)
•Mensagem do Cardeal Joseph Ratzinger no encontro de Comunhão e Libertação (Rimini, 24-30 agosto 2002)
•Discurso do Cardeal Joseph Ratzinger sobre o tema: "Eucaristia, Comunhão e Solidariedade" (Benevento, 2 de junho de 2002)
•Discurso do Cardeal Joseph Ratzinger na apresentação da Carta Apostólica em forma de "Motu proprio" Misericordia Dei sobre alguns aspectos da celebração do Sacramento da Penitência (2 de maio de 2002)
•Discurso do Cardeal Joseph Ratzinger durante o Congresso dos Catequistas e dos Professores de Religião (10 de dezembro de 2000)
•Discurso do Cardeal Joseph Ratzinger no Congresso Internacional sobre a atuação do Concílio Ecumênico Vaticano II (27 de fevereiro de 2000

Pensamento de J. Ratzinger

Clonagem:
«O homem é capaz de produzir em laboratório outro homem que portanto não é já dom de Deus ou da natureza. Pode-se fabricar e, o mesmo que se fabrica, pode-se destruir». Se este é o poder do homem, então «está se convertendo em uma ameaça mais perigosa que as armas de destruição em massa».
Debate no Centro de Orientação Política de Roma. Outubro de 2004.

Cristãos e Muçulmanos:
«Diz-se que que a Constituição européia não podia falar das raízes judaico-cristãs para não ofender o Islã. Mas o que ofende o Islã é o desprezo de Deus, a arrogância da razão que provoca o fundamentalismo».
Debate no Centro de Orientação Política de Roma. Outubro de 2004.

Laicismo e Razão:
«O laicismo é uma ideologia parcial, que não pode responder aos desafios decisivos para o homem. Basta pensar nos danos produzidos pelo comunismo ou pelo desarraigo da tecido moral dos antepassados nos povos africanos, vítimas da guerra e da AIDS».
«A razão não é inimizade da fé, ao contrário. O problema é quando há desprezo de Deus e do sacro».
Debate no Centro de Orientação Política de Roma. Outubro de 2004.

Marxismo
«A doutrina de salvação marxista, em definitiva, nasceu em suas numerosas versões articuladas de diferentes maneiras, como uma visão única e científica do mundo, acompanhada por uma motivação ética e capaz de acompanhar a humanidade no futuro. Assim se explica seu difícil adeus, inclusive depois do trauma de 1989».
«Basta pensar em quão discreta foi a discussão sobre os horrores dos "gulags" comunistas, e no pouco que se escutou a voz de Alexander Solzjenitsin: de tudo isto não se fala».
«O silêncio foi imposto por uma espécie de pudor. Inclusive se menciona só de vez em quando o sanguinário regime de Pol Pot, de passada. Mas ficou o desengano, junto a uma profunda confusão. Já ninguém crê hoje nas grandes promessas morais».
«O marxismo se concebeu nestes termos: uma corrente que auspiciava justiça para todos, a chegada da paz, a abolição das injustificadas relações de predomínio do homem sobre o homem, etc.», afirmou.
«Para alcançar estes nobres objetivos se pensou em que terei que renunciar aos princípios éticos e que se podia utilizar o terror como instrumento do bem. No momento em que todos puderam ver, embora só fora em sua superfície, as ruínas provocadas na humanidade por esta idéia, a gente preferiu refugiar-se na vida pragmática e professar publicamente o desprezo pela ética».
Extrato de «Introdução ao cristianismo». Este livro apresenta algumas das aulas que ofereceu quando era professor de Teologia em Tubinga (Alemanha) em 1967.

Controle populacional
«Há um medo da maternidade que se apodera de uma grande parte de nossos contemporâneos. Neste medo da maternidade há algo profundo: o outro se torna um competidor que tira uma parte de minha vida, uma ameaça para meu ser e para meu livre desenvolvimento. Hoje não há uma filosofia do amor mas apenas uma filosofia do egoísmo».
«Rejeita-se como visão idealista a possibilidade de me poder enriquecer simplesmente na entrega, de me reencontrar a partir do outro e através de meu ser para o outro. Justamente aqui se engana ao homem. É desaconselhado amar. Em definitiva, é desaconselhado ser homem».
Jornal Avvennire. Setembro de 2000

Oração
«Pensamos que a oração é algo intimista. Já cremos tanto, conforme me parece, no efeito real, histórico da oração».
«Ao contrário devemos nos convencer e aprender que este compromisso espiritual, que une o céu e a terra, tem uma força interior. E um meio para chegar à afirmação da justiça é comprometer-se a orar, porque desta maneira se transforma em minha educação e do outro para a justiça. Devemos, em resumo, reaprender o sentido social da oração».
Belluno, Itália. Outubro de 2004

Relativismo
«O relativismo se tornou no problema central da fé na hora atual. Sem dúvida, já não se apresenta tão somente com seu vestido de resignação diante da imensidão da verdade, mas também como uma posição definida positivamente pelos conceitos de tolerância, conhecimento dialógico e liberdade, conceitos que ficariam limitados se se afirmasse a existência de uma verdade válida para todos. Por sua vez, o relativismo aparece como fundamentação filosófica da democracia. Esta, com efeito, edificaria-se sobre a base de que ninguém pode ter a pretensão de conhecer a via verdadeira, e se nutriria do fato de que todos os caminhos se reconhecem mutuamente como fragmentos do esforço para o melhor; por isso, procuram em diálogo algo comum e competem também sobre conhecimentos que não podem fazer-se compatíveis em uma forma comum. Um sistema de liberdade deveria ser, em essência, um sistema de posições que se relacionam entre si como relativas, dependentes, além disso, de situações históricas abertas a novos desenvolvimentos. Uma sociedade liberal seria, pois, uma sociedade relativista; só com esta condição poderia permanecer livre e aberta ao futuro».
Conferência no encontro de presidentes de comissões episcopais da América Latina para a doutrina da fé, celebrado em Guadalajara (México). Novembro 1996.)

New Age (Nova Era) 
«A reedição de religiões e cultos pré-cristãos, que hoje se tenta com freqüência, tem muitas explicações. Se não existir a verdade comum, vigente precisamente porque é verdadeira, o cristianismo é só um pouco importado de fora, um imperialismo espiritual que se deve sacudir com não menos força que o político. Se nos sacramentos não tem lugar o contato com o Deus vivo de todos os homens, então são rituais vazios que não nos dizem nada nem nos dão nada; que, no máximo, permitem-nos perceber o numinoso, que reina em todas as religiões. Ainda então, parece mais sensato procurar o originalmente próprio, em lugar de deixar-se impor algo alheio e antiquado. Mas, acima de tudo, se a ‘sóbria embriaguez’ do mistério cristão não pode nos embriagar de Deus, então terá que invocar a embriaguez real de êxtase eficazes, cuja paixão arrebata e nos converte -ao menos por um instante- em deuses, e nos deixa receber por um momento o prazer do infinito e esquecer a miséria do finito. Quanto mais manifesta seja a inutilidade dos absolutismos políticos, quanto mais forte será a atração do irracionalismo, a renúncia à realidade do cotidiano».
Conferência no encontro de presidentes de comissões episcopais da América Latina para a doutrina da fé, celebrado em Guadalajara (México). Novembro de 1996.

Liturgia
«As diversas fases da reforma litúrgica deixaram que se introduza a opinião de que a liturgia pode ser arbitrariamente trocada. Se existir algo invariável, em todo caso se trataria das palavras da consagração; todo o resto poderia ser mudado. O seguinte pensamento é lógico: se uma autoridade central pode fazer isto, por que não também uma instância local? E se o podem fazer as instâncias locais, por que não em realidade a comunidade mesma? Esta deveria poder ser expressada e encontrar na liturgia. Depois da tendência racionalista e puritana dos anos setenta e inclusive dos oitenta, hoje se sente o cansaço da pura liturgia falada e se deseja uma liturgia vivencial que não demora para aproximar-se das tendências da Nova Era: busca-se o embriagador e enlevado, e não a «logikè latreia», a «rationabilis oblatio» de que fala Paulo e com ele a liturgia romana (Rm 12,1).
Admito que exagero; o que digo não descreve a situação normal de nossas comunidades. Mas as tendências estão aí. E por isso nos pediu estar em vela, para que não nos introduza sorrateiramente um Evangelho distinto do que nos entregou o Senhor -a pedra em lugar do pão».
Conferência no encontro de presidentes de comissões episcopais da América Latina para a doutrina da fé, celebrado em Guadalajara (México). Novembro de 1996.

Teologia da Libertação
«Encontramo-nos, em resumidas contas, em uma situação singular: a teologia da libertação tentou dar ao cristianismo, cansado dos dogmas, uma nova praxe mediante a qual finalmente teria lugar a redenção. Mas essa praxe deixou para trás de si ruína em lugar de liberdade. Fica o relativismo e a tentativa de nos conformar com ele. Mas o que assim nos oferece é tão vazio que as teorias relativistas procuram ajuda na teologia da libertação, para, a partir dela, poder ser levadas a prática».
Conferência no encontro de presidentes de comissões episcopais da América Latina para a doutrina da fé, celebrado em Guadalajara (México). Novembro de 1996.
«Não se pode tampouco localizar o mal principal e unicamente nas ‘estruturas’ econômicas, sociais ou políticas más, como se todos os outros males se derivassem, como de sua causa, destas estruturas, de sorte que a criação de um ‘homem novo’ dependesse da instauração de estrutura econômicas e sócio-políticas diferentes. Certamente há estruturas iníquas e geradoras de iniqüidades, que é preciso ter a valentia de mudar. Frutos da ação do homem, as estruturas, boas ou más, são conseqüências antes de ser causas. A raiz do mal reside, pois, nas pessoas livres e responsáveis, que devem ser convertidas pela graça de Jesus Cristo, para viver e atuar como criaturas novas, no amor ao próximo, a busca eficaz da justiça, do domínio de sim e do exercício das virtudes».
«Quando fica como primeiro imperativo a revolução radical das relações sociais e se questiona, a partir daqui, a busca da perfeição pessoal, entra-se no caminho da negação do sentido da pessoa e de sua trascendência, e se arruína a ética e seu fundamento que é o caráter absoluto da distinção entre o bem e o mal. Por outra parte, sendo a caridade o princípio da autêntica perfeição, esta última não pode conceber-se sem abertura aos outros e sem espírito de serviço».
«Recordemos que o ateísmo e a negação da pessoa humana, de sua liberdade e de seus direitos, estão no centro da concepção marxista. Esta contém pois enganos que ameaçam diretamente as verdades da fé sobre o destino eterno das pessoas. Ainda mais, querer integrar na teologia uma ‘análise’ cujos critérios de interpretação dependem desta concepção atéia, é encerrar-se em ruinosas contradições. O desconhecimento da natureza espiritual da pessoa conduz a subordiná-la totalmente à coletividade e, portanto, a negar os princípios de uma vida social e política de acordo com a dignidade humana».
«Esta concepção totalizante impõe sua lógica e arrasta as ‘teologias da libertação’ a aceitar um conjunto de posições incompatíveis com a visão cristã do homem. Em efeito, o núcleo ideológico, tirado do marxismo , ao qual faz referência, exerce a função de um princípio determinante. Esta função lhe deu em virtude da qualificação de científico, quer dizer, de necessariamente verdadeiro, que lhe atribuiu».
«As «teologias da libertação», que têm o mérito de ter valorizado os grandes textos dos Profetas e do Evangelho sobre a defesa dos pobres, conduzem a um amalgama ruinosa entre o pobre da Escritura e o proletariado de Marx . Por isso o sentido cristão do pobre se perverte e o combate pelos direitos dos pobres se transforma em combate de classe na perspectiva ideológica da luta de classes. A Igreja dos pobres significa assim uma Igreja de classe, que tomou consciência das necessidades da luta revolucionária como etapa para a libertação e que celebra esta libertação em sua liturgia».
Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação LIBERTATIS NUNTIUS. Agosto de 1984.

Políticos abortistas e Eucaristia
«Não todos os assuntos morais têm o mesmo peso moral que o aborto e a eutanásia. Por exemplo, se um católico discordasse com o Santo Padre sobre a aplicação da pena de morte ou na decisão de fazer a guerra, este não seria considerado por esta razão indigno de apresentar-se a receber a Sagrada Comunhão. Embora a Igreja exorte as autoridades civis a procurar a paz, e não a guerra, e a exercer discrição e misericórdia ao castigar criminosos, ainda seria lícito tomar as armas para repelir a um agressor ou recorrer à pena capital. Pode haver uma legítima diversidade de opinião entre católicos a respeito de ir à guerra e aplicar a pena de morte, mas não, entretanto, em relação ao aborto e a eutanásia».
«Em relação ao grave pecado do aborto ou a eutanásia, quando a cooperação formal de uma pessoa é manifesta (entendida, no caso de um político católico, como fazer campanha e votar sistematicamente por leis permissivas de aborto e eutanásia), seu pároco deveria reunir-se com ele, instrui-lo em relação os ensinamentos da Igreja, informando-lhe que não deve apresentar-se à Sagrada Comunhão até que termine com a situação objetiva de pecado, e lhe advertindo que de outra maneira lhe será negada a Eucaristia».
Carta aos Bispos dos EUA. Julho de 2004.

Matrimônio e uniões homossexuais
«Não existe nenhum fundamento para assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o intuito de Deus sobre o matrimônio e a família. O matrimônio é santo, enquanto que as relações homossexuais contrastam com a lei moral natural».
Considerações a respeito dos projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais. Junho de 2003.

Falando com o Cardeal Ratzinger
Entrevista concedida pelo Cardeal Joseph Ratzinger ao Canal Católico EWTN
5 de setembro 2003

Tradução: ACI Digital

Raymond Arroio: Antes que nada Sua Eminência, obrigado por nos receber. É uma grande honra poder estar aqui com o senhor. Em seu livro, Deus e o Mundo, o senhor fala de uma crise de fé. O senhor, melhor que ninguém, deve conhecer o estado da Igreja dado que recebe informe a respeito todos os dias. Qual é o centro desta crise de fé atual? Estão melhorando as coisas?

Cardeal Ratzinger: Sim, em um sentido estão melhorando. Embora, em geral, nossa situação, quer dizer, a situação do ocidente é a de um crescente relativismo. Existe a idéia de que tudo é igual e que não temos nada claro sobre Deus; então todos os credos são iguais. Esta é uma impressão geral do mundo de hoje e isso constitui uma tentação para os cristãos. Penso, por outra parte, que muitas pessoas têm um sincero desejo de relacionar-se diretamente com Cristo, com a presença de Nosso Senhor. Diria que os jovens da Igreja melhoram esta situação já que eles não fazem o que todo mundo mas sim em realidade desejam esse contato com o Senhor assim como compartilhar a fé da Igreja. Diria que em geral, a situação do ocidente não melhora quanto à fé, mas na Igreja, entre os jovens, podemos ver um novo amanhecer.

Raymond Arroio: Sinais de esperança que vão aparecendo.

Cardeal Ratzinger: Sim.

Raymond Arroio: Falemos por um momento do Concílio Vaticano II, particularmente da preparação do Concílio. O senhor tem dito e escrito muito sobre isto. Para os de minha geração, acredito que o mais importante concernente à fé de nossos pais e avós é a liturgia, a Missa. O senhor comentou sobre a reforma, sobre reformar a reforma. Como vê isso? Como vê que isso toma corpo na medida que o tempo passa?

Cardeal Ratzinger: Geralmente, diria que a reforma litúrgica não se implementou bem porque era algo general. Agora, a liturgia é algo próprio de uma comunidade. A comunidade se representa a si mesma e a criatividade do sacerdote ou de outros grupos será o que crie suas próprias liturgias. A liturgia atual é mais a expressão de suas próprias idéias e experiências do que encontro com a presença do Senhor na Igreja. E com essa criatividade e apresentação pessoal da comunidade, desaparece a essência da liturgia. Porque em essência podemos ver através de nossas experiências e receber o que não é parte de nossa experiência, mas como um dom de Deus. Penso que devemos restaurar algumas cerimônias, mas a idéia essencial de liturgia –para entendê-la na liturgia– é que não nos apresentamos a nós mesmos senão que recebemos a graça de Deus na Igreja do Céu e a terrestre. A universalidade da liturgia é essencial. A definição da liturgia e o restabelecimento desta idéia também poderiam ajudar a obedecer melhor as normas, não com um positivismo jurídico, mas sim compartilhando realmente o que nos é dado na Igreja através do Senhor.

Raymond Arroio: E esse sentido do sacrifício e valor de que falou tão eloqüentemente, Acredita que poderá restabelecer-se concretamente? Veremos a volta à postura ad orientem, de cara ao Oriente, o sacerdote de costas ao povo durante a Missa, um retorno ao latim, mais latim na Missa?

Cardeal Ratzinger: Versus orientem. Diria que poderia ajudar já que é uma tradição dos tempos dos Apóstolos, e não é só uma norma mas sim a expressão da dimensão cósmica e histórica da liturgia. Celebramos com o cosmos, com o mundo. É a direção do futuro do mundo, de nossa história representada no sol e nas realidades cósmicas. Acredito que em nossos dias, este descobrimento de nossa relação com o mundo criado pode ser compreendida melhor pelas pessoas que faz 20 anos. E também, usualmente, os sacerdotes e as pessoas também estão orientadas ao Senhor. Então, acredito que poderia ajudar. Os gestos externos não são só um remédio de por si, mas poderia ajudar dado que é uma interpretação muito clássica da direção da liturgia. Geralmente, penso que foi bom traduzir a liturgia nas línguas locais porque a entendemos, participamos também com nossas mentes. Mas a presença do latim em alguns elementos ajudaria a lhe dar uma dimensão universal, lhe dar a oportunidade às pessoas para que vejam e digam “Estou na mesma Igreja”. Assim, em geral, as línguas locais são...
Raymond Arroio: Algo bom.

Cardeal Ratzinger: …Uma solução. Mas um pouco de latim poderia ajudar a ter a experiência de universalidade.
Raymond Arroio: Sei que está trabalhando em novas disposições litúrgicas que o Papa tem previsto em sua encíclica sobre a Eucaristia. ouvimos muito do Cardeal Arinze. Para alguns isto pode ser o início da volta da Missa tridentina. o senhor acredita que será assim?

Cardeal Ratzinger: Faria uma distinção entre o documento futuro e o problema das indulgências. O futuro documento não são novas disposições a não ser a interpretação de normas já dadas. Só temos que interpretar ou esclarecer o que é abuso e o que é aplicável na liturgia. Em um sentido a possibilidade deste documento é muito limitada: uma elucidação dos abusos e esclarecer normas. O outro é um problema distinto. Em geral, penso que a antiga liturgia não se proibiu nunca. Só necessitamos normas para que, pacificamente, se aplique de modo que a liturgia reformada seja a liturgia habitual da Igreja. E que fique claro que a outra sempre será válida sempre seguindo o Magistério da Igreja e do Santo Padre.
Raymond Arroio: Assim é. E isso é uma grande provocação em alguns lugares. É interessante ver também como em alguns lugares muitos seguiram o chamado do Papa para realizar mais freqüentemente a pratica da antiga Missa.

Cardeal Ratzinger: Sim, acredito que é importante estar aberto à possibilidade de demonstrar também a continuidade da Igreja. Não somos parte de uma Igreja distinta àquela de faz 500 anos. Sempre é a mesma Igreja. A Igreja sempre é Santa nunca deixou de sê-lo, é impossível.

Raymond Arroio: Correto. Alguns sugerem, Sua Eminência, que existe um cisma de facto na Igreja de hoje. Muitos que se chamam a si mesmos católicos, que nasceram em lares católicos e que foram batizados como tais, simplesmente não acreditam nem vivem uma vida de fé. Como os atraímos novamente? Como chegamos a eles em meio de nossa realidade cultural atual?

Cardeal Ratzinger: Diria que esse é um problema pastoral permanente, ajudar às pessoas a que compartilhem a fé da Igreja autenticamente. E sempre foi um problema para muitas pessoas porque sua fé é deficiente e insuficiente. Hoje isto pode ver-se muito mais claramente com todo o…

Raymond Arroio: Relativismo?

Cardeal Ratzinger: …com o relativismo e as coisas relacionadas a ele. É um problema tão complicado como em tempos passados. Também está o problema da catequização e a evangelização que é muito mais difícil que antes. Penso que o primeiro que deve fazer-se é uma boa catequese na formação na fé, que se faça presente a fé da Igreja. Acredito que o Catecismo da Igreja Católica é uma grande ajuda para observar universalmente o que é a fé da Igreja e o que ela não é. O novo compêndio que estamos preparando será outra ajuda para fazer mais acessível o grande catecismo em um trabalho prático de catequização. Este é o primeiro ponto: a educação é a verdadeira base do presente. O outro assunto está na pregação: que possamos aprender o que é a fé nas homilias, não só algumas ideias ou sempre as mesmas idéias. Penso que um perigo real com o que nos topamos é que nas homilias os sacerdotes e também os bispos repetem essencialmente suas idéias favoritas e não apresentam a totalidade da fé. Parece-me então que uma renovação na pregação também é muito importante. A liturgia é catequese viva. É possível ver o Sacrifício de Cristo aqui e que Deus Um e Trino está em contato conosco e nós com Ele. A Liturgia é muito importante. Desse modo, também deve ser aprofundada a oração na Igreja. Acredito que a maneira de aprender a Deus é a oração. E ter uma escola de oração é essencial. Com uma relação concreta de oração, aprendemos sobre Deus e aprendemos à Igreja. Por isso é importante ter livros de oração que pressentem a profundidade de nossa fé. Por essa mesma razão a caridade cristã é importante para concretizar nossa fé; dado que a fé não é só uma idéia, uma teoria, mas sim uma realidade existente.

Raymond Arroio: Pois é. Parece-me que essa experiência da qual fala, se relaciona com aquilo que disse da Missa...
Cardeal Ratzinger: Exatamente.

Raymond Arroio: …esse, esse é o verdadeiro contato, se o desejamos, entre Deus e o homem …
Cardeal Ratzinger: Sim. Sim.

Raymond Arroio: Falemos um momento sobre a nova primavera. O Papa falou muito sobre a nova primavera e o senhor comentou suas próprias idéias. Sua visão é um pouco diferente da de outras pessoas. Alguns vêem que os números crescem e que os crentes avançam para o terceiro milênio cantando e dançando, de mãos dadas para o terceiro milênio (o Cardeal ri entre dentes). o senhor vê uma imagem distinta. nos diga como é essa imagem. Como vê a evolução desta Primavera?

Cardeal Ratzinger: Não excluo esta dança de mãos dadas, mas isto é apenas um momento. Minha idéia da primavera da Igreja não se refere a que dentro de pouco tenhamos muitíssimas pessoas convertidas e que finalmente todas as pessoas do mundo se convertam ao catolicismo. Essa não é a maneira de Deus. As coisas essenciais na história começam com pequenas comunidades, mais convictas. Assim, a Igreja começa com 12 apóstolos, e inclusive a Igreja de São Paulo que se difundiu no Mediterrâneo estava constituída por pequenas comunidades, mas esta comunidade em si mesma é o futuro do mundo dado que tem a verdade e a força da convicção. Penso que seria um engano pensar que agora ou em dez anos com a nova primavera, todo mundo será católico. Este não é o nosso futuro, não é nossa expectativa. Mas teremos comunidades realmente convencidas com o élan da fé, não? Esta é a primavera: uma nova vida de pessoas convencidas com a alegria da fé.
Raymond Arroio: Mas, pequenos números? e a grande escala?
Cardeal Ratzinger: Números pequenos, parece-me. Desses números pequenos teremos uma irradiação de alegria no mundo. Existe uma atração, como a que existia na antiga Igreja. Inclusive quando Constantino instaurou o cristianismo como religião oficial, havia uma pequena percentagem de cristãos, mas era claro que eles eram o futuro. Podemos viver no futuro. Diria que se tivermos jovens que realmente vivam a alegria da fé e vivam além disso a irradiação desta alegria; temos então a um grupo de pessoas que lhe dizem ao mundo “inclusive se não pudermos compartilhá-la, se não pudermos converter a ninguém neste momento, temos aqui a forma para viver o amanhã”.

Raymond Arroio: Pois é. Vê aos movimentos na Igreja como parte dessa conversão? Existe o perigo de que nos deixemos envolver por esse fato positivo, se por acaso opina assim, de que todos devamos ser parte deles para ser católicos a sério?

Cardeal Ratzinger: Sim, por um lado sou muito amigo destes movimentos: Comunhão e Liberação, os focolares e a Renovação Carismática, por exemplo. Penso que são um sinal desta primavera e da presença do Espírito Santo que esteja dando de presente estes carismas novos à Igreja. Isto é para mim motivo de grande esperança: que a força proveniente do Espírito Santo esteja presente nos leigos e não necessariamente no clero. Temos movimentos e novas formas de fé. Por outra parte, acredito que é importante que estes movimentos não se fechem sobre si mesmos ou se absolutizem. Têm que entender que embora são uma maneira, não são “a” maneira; têm que estar abertos a outros, em comunhão com outros. Especialmente devemos ter presente e ser obedientes à Igreja na figura dos bispos e do Papa. Só com esta abertura a não absolutizar-se com suas próprias idéias e com a disposição para servir à Igreja comum, a Igreja universal, serão um caminho para o amanhã.

Raymond Arroio: Sua Eminência, quero lhe fazer uma pergunta pessoal se me permitir isso. O senhor escreveu um livro recentemente Deus e o Mundo. E disse que esta posição como Prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé é sua “mais incômoda posição” (o Cardeal Ratzinger ri devagar) O que quis dizer com isso?
Cardeal Ratzinger: Pois sim, de muitas maneiras é incômodo. Sobre tudo porque com freqüência temos que lutar com todos os problemas da Igreja: relativismo, heresias, teologias inaceitáveis, teólogos complicados e demais. junto com os casos disciplinadores, o problema dos pedófilos; por exemplo, também é nosso problema. Nesta Congregação temos que lutar com os aspectos mais complicados da vida da Igreja de hoje. Além disso, somos atacados como a inquisição, o que o senhor deve saber melhor do que eu...

Raymond Arroio: Claro, claro.

Cardeal Ratzinger: …Isso por um lado. Mas, por outra parte todos os dias experimento que as pessoas estão agradecidas quando dizem “sim, a Igreja tem uma identidade, uma continuidade, a fé é real e está presente também hoje e é possível”. E quando vou na Praça São Pedro e vejo tantas pessoas de lugares tão variados do mundo que me dizem “obrigado Padre. Estamos agradecidos pelo difícil trabalho que faz, porque nos está ajudando”. Inclusive muitos amigos protestantes me dizem “o que está fazendo é útil para nós porque também está defendendo nossa fé e a presença da fé em Cristo. Necessitamos uma instância como a sua, apesar de não compartilhar o que está dizendo. É também útil para ver que temos que seguir nesta defesa contínua da fé e nos alenta a continuar na fé, a vivê-la”. E nestes últimos dias, uma delegação de ortodoxos se aproximou até mim e me disseram que “o que está fazendo também é bom para nossa fé”. Então temos uma dimensão ecumênica que com freqüência não é...

Raymond Arroio: Apreciada.

Cardeal Ratzinger: …apreciada.

Raymond Arroio: Sua Eminência, outra coisa que queria perguntar; –e isto é totalmente pessoal. Desde meu posto cubro à Igreja, viajo pelo mundo todo e converso com muita gente. Estou seguro que não tantos como aqueles com os que o senhor fala nem encontrando as coisas que o senhor encontra. Devo lhe dizer, honestamente, que os últimos dias foram como uma prova de fé para mim e para alguns de meus colegas também. Como enfrenta a tentação da desesperança que chega às vezes, considerando os casos que examina e as pessoas com as que se encontra?

Cardeal Ratzinger: Penso que temos que lembrar do Nosso Senhor que nos disse “dentro dos campos da Igreja não só haverá trigo mas também também palha; dos mares do mundo obterão não somente peixes mas também também coisas inaceitáveis”. Então, o Senhor nos anuncia como comunidade, uma Igreja em que existirão escândalos e pecadores. Devemos lembrar que São Pedro, o primeiro dos apóstolos, foi um grande pecador e apesar disso o Senhor quis que este Pedro pecador seja a rocha da Igreja. Com isto, já nos tinha indicado que não esperemos que todos os Papas sejam grandes Santos, temos que esperar que alguns deles sejam pecadores. Nos anuncia que nos campos da Igreja haverá muita palha. Isto não deveria nos surpreender se considerarmos a história da Igreja. Existiram outros tempos que pelo menos foram tão complicados como os nossos com escândalos, coisas, etc. Tudo o que devemos fazer é pensar no século IX, o X, o renascimento. Então, contemplando as palavras do Senhor na história da Igreja, podemos relativizar os escândalos de hoje. Sofremos. Temos que sofrer porque eles –quer dizer os escândalos– fazem sofrer a muita gente, e aqui pensemos nas vítimas. Certamente, temos que fazer tudo quanto estiver ao nosso alcance para evitar que estas coisas aconteçam no futuro. Mas, por outra parte, sabemos que o Senhor –e esta é a essência da Igreja– se sentava à mesa com pecadores. Esta é a definição de Igreja. O Senhor se sinta à mesa com pecadores. Então não podemos nos surpreender de que isto seja assim. Não podemos cair em desesperança. Ao contrário, o Senhor disse “EU NÃO ESTOU aqui só para os justos, mas sim para os pecadores”. Temos que estar seguros de que o Senhor, verdadeiramente –inclusive hoje em dia– procura os pecadores para nos salvar.
Raymond Arroio: ....Durante os dois últimos anos, muitos diagnosticaram uma crise de abusos sexuais que estão infestando a Igreja nos Estados Unidos. Agora o chefe dos teólogos do Vaticano identifica o que considera são as raízes destes escândalos sexuais. O senhor, eu sei, esteve bastante envolvido na crise dos Estados Unidos, tratando de fechar uma ferida quanto aos escândalos sexuais. Minha pergunta é, quais acredita que são as raízes que originam esta crise que ainda vivemos nos Estados Unidos

Cardeal Ratzinger: Distinguiria talvez dois elementos distintos: um elemento geral e um específico. O elemento geral é, como já disse, a debilidade dos seres humanos, inclusive dos sacerdotes. As tentações estão presentes também para os sacerdotes e isso sempre será assim. Temos que aceitar isso sempre e entender que, inclusive na comunhão entre sacerdotes e bispos, estas coisas podem acontecer. O segundo ponto é mais específico. por que é mais comum nestes tempos que no passado? Acredito que um ponto essencial é a debilidade da fé, porque, somente se me encontrar a sós com o Senhor, se o Senhor estiver aí por mim, não a idéia mas a Pessoa com a qual vivo uma amizade profunda, se conhecer pessoalmente ao Senhor e estou em contato com seu amor todos os dias; então a fé se converte em uma realidade para mim. Se for assim então se converte no terreno de minha vida, é a mais segura realidade e não uma possibilidade. De ser assim e se estiver realmente convencido e em contato de amor com o Senhor, então Ele me ajudará a vencer as tentações embora pareçam impossíveis de vencer. Se não atualizarmos nossa fé todos os dias, se se debilitar e se converte em algo que não é fundamental na vida; então começam todos estes problemas. Por todas estas razões é que a debilidade da fé e a pouca presença da fé na Igreja são o ponto essencial. Parece-me que é um problema que vamos arrastando faz 40 ou 50 anos: a idéia que temos idéias comuns com todo mundo e que a fé é um assunto muito pessoal; junto com falta de consciência de que a fé é um dom de Deus. O primeiro que devemos fazer, então, é aprender novamente, nos reconverter a uma fé profunda e nos educar na fé. Penso que nos últimos 40 ou 50 anos o ensino moral da Igreja não estava muito clara tampouco. Tivemos tantos mestres na Igreja que ensinavam outras coisas e diziam “não, isto não é pecado. Isto é comum e como todos o fazem então está permitido”. Com esta idéia, não temos um ensino moral clara e inclusive podemos…

Raymond Arroio: ser presa das coisas do mundo.

Cardeal Ratzinger: Sim, sim, sim. Acredito que há duas coisas essenciais neste assunto: a conversão a uma fé profunda, a vida sacramental e de oração, por um lado e, pelo outro, um ensino moral e uma convicção de que a Igreja tem ao Espírito Santo de sua parte e pode avançar neste caminho.

Raymond Arroio: O que diria aos fiéis nos Estados Unidos que se encontram tão abatidos nestes momentos, que não estão seguros da quem olhar?
Cardeal Ratzinger: Bom, em primeiro lugar o que devem fazer é olhar ao Senhor. Ele está sempre presente e sempre perto de nós. Olhem também aos Santos de todos os tempos. Os humildes, os fiéis estão ali, de repente não tão notoriamente porque não saem em televisão. Mas os humildes e os que rezam estão presentes e nisso confia a Igreja, confia em que todos os fiéis encontrem a este tipo de pessoas: Que vejam que com todos os problemas de hoje, a Igreja não desapareceu, segue adiante, especialmente com pessoas que não são tão visíveis. Penso então que o essencial é encontrar ao Senhor, ver os Santos de todos os tempos e encontrar também aos que não estão canonizados, pessoas singelas que estão no coração da Igreja.

Raymond Arroio: Sua Eminência, nos Estados Unidos a Conferência de Bispos tenta lhe pôr ponto final a esta crise. Dado que existe tal falta de confiança nos bispos por parte dos fiéis Acredita que a Conferência de Bispos seja o melhor instrumento para sanar as feridas neste momento?

Cardeal Ratzinger: Esta é uma pergunta difícil, como bem sabe.
Raymond Arroio: Por isso a faço (ambos riem).
Cardeal Ratzinger: Por um lado diria que a coordenação entre os bispos nos Estados Unidos se faz muito necessária dado que é um país bastante grande e é impossível que um bispo tenha a mesma disciplina que outro. Neste sentido, a coordenação entre os bispos e as normas comuns são importantes para garantir a igualdade entre as distintas diocese. Acredito que a responsabilidade pessoal do bispo é fundamental para a Igreja e, talvez, o anonimato da Conferência de Bispos pode ser um perigo para a Igreja. Ninguém é responsável imediatamente. Sempre foi a conferência e a gente não sabe onde nem quem é a conferência. Por um lado, temos então a cooperação, a colegialidade e a igualdade do direito e as normas. Por outra parte é uma responsabilidade pessoal dos bispos que podemos conhecer. “Esta é minha parte agora, eu sou responsável”. E se faz responsável por qualquer tipo de coisas das que deva fazer-se responsável.

Raymond Arroio: Certo, certo. Porque é difícil para os meninos da Igreja abraçar a um pai que não conhecem (risadas).

Cardeal Ratzinger: Isso é claro. É a figura de um bispo que está valorosamente presente.

Raymond Arroio: Muito importante. Em Deus e o Mundo, o senhor reflete um pouco sobre a Dominus Jesus, um documento do ano 2000. Sobre o assunto, seu livro foi recebido em meio de certa controvérsia porque nele o senhor diz “Deus não revogou Sua aliança com o povo do Israel, em vez disso apresenta a Jesus como o Mesias para todos e então, a conversão é necessária, ou deveria ser uma possibilidade”. Como reconcilia essas duas idéias?

Cardeal Ratzinger: Talvez não é possível para nós as reconciliar, isso devemos deixar-lhe a Deus. Nas Escrituras há duas coisas bastante claras. Na Carta de São Paulo aos Romanos, o apóstolo diz claramente que “a fidelidade de Deus é absolutamente clara. Ele é fiel a suas promessas”. Por isso, o povo do Abraão será sempre o povo de Deus, por um lado. E o diz claramente “Todo Israel será salvo”. Mas também é claro que Jesus é o Salvador, não só para outros povos. Ele é judeu e Ele é o Salvador, especialmente de seu próprio povo. São Bernardo de Claraval disse “Deus salvador, reservou-se para si a salvação de Israel. O fará Ele mesmo em Pessoa”. Então nos deve ficar claro que isto fica para Deus. Devemos estar convencidos de que Cristo é o Salvador de todos os seus e de todo o mundo. Mas como salvará a seu povo é algo que devemos deixar em mãos de Deus.

Raymond Arroio: Mas é responsabilidade da Igreja fazer que o Evangelho esteja disponível e que a mensagem esteja disponível para os judeus.

Cardeal Ratzinger: Sim. É absolutamente importante fazer que o Evangelho seja acessível para todos e compreensível para os judeus. Não sei se talvez o senhor tenha visto o novo livro do Cardeal Lustiger no que relata uma promessa e, de maneira muito pessoal, narra uma experiência em que mostra como podemos entender que o Antigo Testamento fala de Cristo e que também é possível fazê-lo acessível e disponível nos Santos livros do Israel. Cristo é quem fala no presente. Então, este é um dever da Igreja: fazer disponível e compreensível quem é o Salvador, inclusive dos Seus, os judeus.

Raymond Arroio: Falemos por um momento de sexualidade. o senhor há dito que isto deve viver-se no matrimônio. Em nossos dias este assunto é uma noção e ensino bastante questionadas. Como lhe apresenta a Igreja esta mensagem aos fiéis, em uma cultura que tem agora “matrimônios homossexuais”, fertilização in vitro e tecnologias de reprodução fora do ato sexual, como lhe apresenta este ensino a esta cultura?

Cardeal Ratzinger: O senhor não pensará que em um minuto vou esclarecer o que muita gente não pôde em muitos livros? Entretanto, considero sempre essencial entender a natureza que lhe deu ao ser humano e que o homem foi criado para a mulher e viceversa. Esta é a relação creacional que reflete tudo o que a natureza lhe deu ao homem para continuar com a geração humana. É crucial que os homens e mulheres criados Por Deus sejam um, como se diz nos primeiros capítulos da Bíblia. Por isso acredito que, apesar de que a cultura está em contra do matrimônio como forma essencial de relacionar-se entre os seres humanos, entre os homens e as mulheres; nossa natureza está sempre presente e podemos entendê-lo. Acredito que as coisas que se opõem ao matrimônio são uma contra-cultura e não estão de acordo a nossos desejos mais profundos. Acredito que é possível obter um diálogo sincero e aberto com as pessoas para entender que inclusive em nossos dias o homem e a mulher foram criados um para o outro.

Raymond Arroio: Pois é. Um de seus trabalhos aqui na Congregação para a Doutrina da Fé é a investigação das aparições marianas que ocorreram na história e em nossa era. No 2000, o senhor deu a conhecer o chamado “terceiro segredo da Fátima”. Parte dessa revelação falava de uma bala contra um Papa e que este cairia morto. A congregação interpretou que este episódio era a tentativa de assassinato contra Sua Santidade João Paulo II. É possível –e me chegaram muitas cartas perguntando-me isto– que isto pudesse referir-se a um futuro Papa?

Cardeal Ratzinger: Não podemos excluir esta possibilidade. Normalmente as visões privadas estão limitadas a seguinte geração. Inclusive Luzia e todos em Fátima estão convencidos de que no tempo de uma geração o revelado se faria realidade. Então esse conteúdo imediato da revelação é expresso em uma visão com linguagem apocalíptica. Nas visões não temos uma linguagem histórica, como uma toma televisiva; temos uma linguagem simbólica e visionária. Podemos entender que isto em realidade é uma indicação da crise da Igreja na segunda parte do século XX e em nosso tempo. Inclusive no imediato sentido de profecia, esta visão está sempre nas gerações imediatamente posteriores, embora não podemos excluir às que vêm depois. Não podemos dizer que não, temos que esperar, devemos pensar que é provável que possam dar-se ataques similares contra a Igreja ou contra o Papa.

Raymond Arroio: Detenhamo-nos um momento neste Papa. O senhor trabalhou perto dele por esses 21 anos. Incrível! Qual acredita é a contribuição do Papa a Igreja e como moldou o Papado, o Papado para o futuro?

Cardeal Ratzinger: Embora tem uma dimensão política, possui uma dimensão muito mais espiritual. Na dimensão política, como todos sabemos, contribuiu à queda dos regimes da Europa do Leste. Gerou –e aqui falamos já da dimensão espiritual – uma relação com o Israel e um novo compromisso pelos pobres do mundo. Esta é uma das dimensões essenciais que revelou e que reforçou o compromisso de caridade da Igreja para com a gente que mais sofre no mundo. Temos uma dimensão espiritual com sua profunda fé e amor pelo Senhor e por sua Mãe María, Mãe de Deus, quem nos alenta com sua oração e com sua compreensão da presença do Senhor. Deu-nos um novo começo, uma nova esperança para os jovens, especialmente para entender que “podemos rezar hoje em dia. Cristo está presente em nossos dias Com todas suas viagens pelo mundo, com sua palavra, seus escritos, sua profunda fé e sua renovação da mesma, foi o iniciador do movimento da juventude, da “nova primavera da Igreja”. “Sim, podemos viver desta forma. Cristo está presente. E isso é mais importante que todos os problemas da fé e de nossa vida moral, ter ao Senhor e estar no caminho do Senhor”. Também é essencial tudo o que o Papa tem feito para gerar a renovação de nossa vida de fé e de nossa vida sacramental.

Raymond Arroio: E sobre o seu sofrimento, o sofrimento deste homem que todo o mundo pode observar? Qual acredita o senhor que seja sua contribuição?

Cardeal Ratzinger: Acredito que, em nosso tempo, é muito importante. Estamos em um mundo no qual somente soam as personalidades ativas, do esporte e similares, todos jovens. A idéia é ser jovem e bonito. Que um homem ancião sofredor exista, nos mostra que alguém assim pode ser uma importante contribuição à vida das pessoas. Seu sofrimento esteve em comunhão com o sofrimento de Cristo e talvez com seu sofrimento podemos entender melhor que o sofrimento de Cristo redimiu ao mundo. Do Papa podemos aprender porque se entregou ao sofrimento, deixou tudo e demonstrou que suas forças foram além das forças humanas porque tinha a Cristo. Podemos aprender de seu sofrimento e do presente que significou para nós, tão necessário em nosso tempo.

Raymond Arroio: O senhor esteve neste posto durante 21 anos. Tenho lido em distintos relatórios que o senhor quis retirar-se várias vezes. Por que está ainda aqui? (risadas de ambos).

Cardeal Ratzinger: Sim, tive o desejo de me retirar em 1991, 1996 e 2001 porque tinha a idéia de que poderia escrever alguns livros e retornar a meus estudos como fez o Cardeal Martini … mas, por outro lado, vendo o Papa sofrendo, não podia lhe dizer, ‘Eu me aposento, dedicarei-me a escrever meus livros (ambos riem). Tenho que continuar.

Raymond Arroio: Minha pergunta final Qual é a seu parecer o grande perigo e a grande esperança da Igreja hoje?

Cardeal Ratzinger: Acredito que o perigo maior está em que nos convertamos em uma organização social que não esteja fundada na fé do Senhor. A primeira vista, parece que só importasse o que estamos fazendo e que a fé não é tão importante. Mas se a fé desaparece, todas as outras coisas, como vimos, decompõem-se. Penso que existe o perigo, com todas estas atividades e visões externas, de subestimar a importância da fé e perdê-la, começar a viver em uma Igreja em que a fé não seja tão importante.

Raymond Arroio: Certo.

Cardeal Ratzinger: Então existe a grande esperança no Senhor, veremos uma nova presença do Senhor. Podemos ver que sua presença sacramental na Eucaristia é um presente para nós e nos permite amar a outros e trabalhar pelos outros. Penso que a nova presença da Eucaristia e o novo amor por Cristo, e Cristo mesmo presente na Eucaristia é o elemento mais alentador em nosso tempo.

Raymond Arroio: Agradecemos ao Cardeal Joseph Ratzinger e a sua equipe por nos permitir esta entrevista.

Carta do Santo Padre João Paulo II
por ocasião do 50º aniversário de ordenação sacerdotal do Card. Joseph Ratzinger

Ao venerado Irmão Cardeal JOSEPH RATZINGER

Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé

Senhor Cardeal, é com íntima alegria que lhe apresento as minhas cordiais felicitações e os mais ardorosos bons votos na feliz comemoração do seu 50º aniversário de Ordenação sacerdotal. A coincidência do seu dia jubilar com a solenidade litúrgica dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo suscita no meu espírito a visão de amplos horizontes espirituais e eclesiais: a santidade pessoal, levada até ao sacrifício supremo, a projecção missionária unida à solicitude constante pela unidade e a necessária integração entre carisma espiritual e ministério institucional.
São horizontes que Vossa Eminência, venerado Irmão, explorou com atenção nas suas investigações teológicas: em Pedro manifesta-se o princípio de unidade, alicerçado na fé sólida como rocha do Príncipe dos Apóstolos; em Paulo, a exigência intrínseca ao Evangelho, de exortar cada homem e cada povo à obediência da fé. Além disso, estas duas dimensões unem-se no testemunho conjunto de santidade, que consolidou a generosa dedicação dos Apóstolos ao serviço da imaculada Esposa de Cristo. Como deixar de entrever nestes dois componentes também as coordenadas fundamentais do caminho que a Providência dispôs para Vossa Eminência, Senhor Cardeal, chamando-o para o sacerdócio?
É nesta perspectiva de fé que se devem ver os excelentes estudos filosóficos e sobretudo teológicos que Vossa Eminência realizou, e a chamada precoce a cargos de docência nas mais importantes Universidades alemãs. A intenção que sempre o orientou no seu compromisso de estudo e de ensino adquiriu expressão no lema que Vossa Eminência escolheu por ocasião da Nomeação episcopal: Cooperatores veritatis. A finalidade que sempre teve em vista, desde os primeiros anos do seu Sacerdócio, consiste em buscar a Verdade, procurando conhecê-la de modo mais profundo e transmiti-la de forma mais vasta.
Foi precisamente a consideração deste anseio pastoral, sempre presente na sua actividade académica, que induziu o Papa Paulo VI, de veneranda memória, a elevá-lo à dignidade episcopal e a confiar-lhe a responsabilidade da grande Arquidiocese de Munique e Frisinga.
Tratou-se de um momento decisivo para a sua vida, que em seguida haveria de orientar o seu desenvolvimento seguinte. Com efeito, quando pouco tempo mais tarde o inesquecível Pontífice que acabo de mencionar o criou Cardeal, Vossa Eminência encontrou-se directamente vinculado ao serviço da Sé Apostólica. Há quase vinte anos, fui eu mesmo que lhe pedi que exercesse a tempo integral esta colaboração, como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. A partir de então, Vossa Eminência não cessou de dedicar as suas energias intelectuais e morais para promover e salvaguardar a doutrina sobre a fé e os costumes em todo o "orbe" católico (cf. Constituição Apostólica Pastor bonus, 48) favorecendo, ao mesmo tempo, os estudos destinados a fazer progredir a inteligência da fé, de tal maneira que, aos novos problemas apresentados pelo progresso das ciências e das civilizações, se pudesse dar uma resposta conveniente, à luz da Palavra de Deus (cf. ibid., n. 49).
Senhor Cardeal, neste múnus, os Apóstolos Pedro e Paulo voltaram a inspirar, e de forma mais elevada, a sua vida sacerdotal e o seu serviço eclesial. Esta feliz comemoração é-me propícia para lhe renovar a expressão da minha gratidão pela impressionante quantidade de trabalhos que Vossa Eminência realizou e dirigiu na Congregação que lhe foi confiada e, mais ainda, pelo espírito de humildade e de abnegação que constantemente caracterizou a sua actividade. O Senhor o recompense de forma abundante!
Nesta data que lhe é tão significativa, desejo confessar-lhe que a comunhão espiritual que Vossa Eminência sempre manifestou em relação ao Sucessor de Pedro me foi de grande consolação no afã quotidiano do meu serviço a Cristo e à Igreja. Por conseguinte invoco do Senhor, por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, os mais ardentes favores celestes para a sua pessoa, para o seu ministério e para quantos lhe são queridos enquanto, com fraterno sentimento de afecto, lhe concedo do íntimo do meu coração uma especial Bênção apostólica.

Vaticano, 20 de Junho de 2001, 23º ano de Pontificado.

Condecorações e distinções


•1977 recebe a Grande Cruz da República do Equador
•1985 recebe a Grande Cruz da República Federal Alemã, com estrela e banda; e a medalha de ouro do Estado da Baviera
•1989 recebe o Prêmio da Ordem della Minerva da Universidade do Chieti e o Prêmio Agostinho Bea em Roma
•1991 recebe o Prêmio Leopold Kunschak em Viena
•1992 recebe a Grande Condecoração de Ouro à Honra da República da Austria.
Recebe o Prêmio de Literatura no Anacapri.
Recebe o Prêmio de Literatura Basilicata na Potenza
•1996 recebe o Prêmio da Ordem Bávara do Maximiliano para a Arte e as Ciências
•1997 recebe a Condecoração de Cidadão de Honra da Comunidade do Marktl am Inn.
•1998 Nomeação de Comandante da Legión de Honra concedida pelo Presidente da França.
•1999 Incorporado às Filas da Soberana Ordem Militar de Malte em Roma, como “Bali dava Grande Croce e Devozione”
Membro de:

•1964-1967 Membro regular da Academia de Ciências da Renania-Westfalia e desde
•1966 membro correspondente da mesma.
•1966 Membro da Académie dê sciences réligieuses de Bruxelas
•1991 Membro regular da Academia européia para as Ciências e as Artes, seção de Teologia em Salzburg.
•1992 Membro associado estrangeiro da Académie dê Sciences Morais et Politiques de l’Institut de France em Paris
•2000 nomeado pelo Papa João Paulo II membro de honra da Pontifícia Academia para as Ciências

Documentos Eclesiais
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Bento XVI

•Encíclicas
◦Carta Encíclica Deus Caritas Est do Sumo Pontífice Bento XVI

•Exortações Apostolica
◦Exortação Apostolica pos-sinodal Sacramentum Caritatis de Sua Santidade Bento XVI

•Cartas
◦Ao Cardeal Eduardo Martinez Somalo (4 de Abril de 2007)
◦Ao Cardeal Camillo Ruini Vigário-Geral para a Diocese de Roma (23 de Março de 2007)
◦Sessão Plenária da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica
◦Ao Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano por ocasião do Cinquentenário
◦Beatificação de Irmã Elias de São Clemente (14 de Março de 2006)
◦Beatificação de três Servos de Deus (13 de Novembro de 2005)
◦Beatificação de Oito Servos de Deus (29 de Outubro de 2005)
◦Solene Beatificação do Servo de Deus Clemens August Von Galen (9 de Outubro de 2005)
◦Solene Beatificação de duas Servas de Deus (14 de Maio de 2005)

•Discursos
◦Vigília de oração com os jovens na Esplanada de Marienfeld - Alemanha - JMJ 2005
◦Aos Seminaristas do mundo em Colônia - Alemanha - JMJ 2005
◦Sinagoga de Colônia - Alemanha - JMJ 2005
◦Catedral de Colônia- Alemanha - JMJ 2005
◦Durante o encontro com os jovens às margens do rio Reno - JMJ 2005
◦Basílica de São João de Latrão na abertura do Congresso Eclesial da Diocese de Roma sobre «Família e comunidade cristã: formação da pessoa e transmissão da fé»
◦Apresentação do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica
◦Oocasião da projecção do filme "Karol, um homem que se tornou Papa"
◦Delegações e peregrinos de língua alemã que vieram a Roma por ocasião da eleição
◦Delegados das outras Igrejas, Comunidades Eclesiais e tradições religiosas
◦Aos representantes dos meios de comunicação social presentes em Roma
◦Aos membros do Colégio Cardinalício no Encontro na Sala Clementina

•Mensagens
◦Campanha da Fraternidade 2007
◦Quaresma 2007
◦Celebração do Dia Mundial da Paz

•Urbi et orbi
◦Mensagem Urbi Et Orbi de S.S. Bento XVI - Páscoa 2007
◦Mensagem Urbi Et Orbi de S.S. Bento XVI - Natal 2006

•Homilias
◦Celebração das Vesperas na Basílica de «San Pietro in Ciel D`oro» de Pavia (22 de abril de 2007)
◦Concelebração Eucarística na Esplanada dos “Orti Borromaici” de Pavia (22 de abril de 2007)
◦Concelebração Eucarística Presidida Na Praça Ducal de Vigevano (21 de abril de 2007)
◦Domingo Da Divina Misericórdia e Vigília Do Seu Octogésimo Aniverario (15 de abril de 2007)
◦Vigília Pascal Na Noire (7 de abril de 2007)
◦Santa Missa «In Caena Domini»(5 de abril de 2007)
◦Santa Missa Crismal (5 de abril de 2007)
◦Concelebração Eucarística em Sufrágio pelo Seu Predecessor João Paulo II no Segundo Aniversario da morte (2 de abril de 2007)
◦Celebração do Domingo de ramos e da Paixão do Senhor (1 de abril de 2007)
◦Celebração do Sacramento da Penitencia em preparação para XVII Jornada Mundial da Juventude (29 de Março de 2007 )
◦Celebração Eucarística Presidida na paróquia Romana de santa Felicidades e filhos Mártires (25 de Março de 2007)
◦Concelebração Eucarística na capela do Presedio de casal del marmo em Roma (18 de Março de 2007)
◦Celebração da Quarta-feira de cinzas (21 de Fevereiro de 2007)
◦Solene Concelebração das Exéquias do Cardeal Antonio Maria Vierre Ortas (2 de Fevereiro de 2007)
◦Festa de conversão do Apostolado São Paulo (25 de aneiro de 2007)
◦Festa do Baptismo do Senhor (7 de Janeiro de 2007)
◦Por ocasião da Santa Missa na Solenidade da Epifania (6 de Janeiro de 2007)
◦Festa da mãe de Deus XL dia Mundial la Paz (1 de Janeiro de 2007)

•Viagens


◦Sydney 2008

◦Bavaria 2006

◦Turquia 2006

O Brasão de Sua Santidade o Papa Bento XVI

Desde os tempos medievais, os brasões tornaram-se de uso comum para os guerreiros e para a nobreza, e por conseguinte foi-se desenvolvendo uma linguagem bem articulada que regula e descreve a heráldica civil. Paralelamente, também para o clero se formou uma heráldica eclesiástica. Ela segue as regras da civil para a composição e a definição do escudo, mas coloca em redor símbolos de insígnias de carácter eclesiástico e religioso, segundo os graus da Ordem sacra, da jurisdição e da dignidade. É tradição, pelo menos de há oito séculos para cá, que também os Papas tenham um seu brasão pessoal, além dos simbolismos próprios da Sé Apostólica. Particularmente no Renascimento e nos séculos seguintes, era costume decorar com o brasão do Sumo Pontífice felizmente reinante todas as principais obras por ele executadas. Brasões papais aparecem de facto nas obras de arquitectura, em publicações, em decretos e documentos de vários tipos.
Com frequência os Papas adoptavam o escudo da própria família, se existia, ou então compunham um escudo com simbolismos que indicavam um próprio ideal de vida, ou uma referência a factos ou experiências passadas, ou a elementos relacionados com um próprio programa de pontificado. Por vezes acrescentavam algumas variantes ao escudo que tinham adoptado como Bispos. Também o Cardeal Joseph Ratzinger, eleito Papa e assumindo o nome de Bento XVI, escolheu um brasão rico de simbolismos e de significados, para confiar à história a sua personalidade e o seu Pontificado.
Como se sabe, um brasão é composto por um escudo que tem alguns símbolos significativos e é circundado por elementos, que indicam a dignidade, o grau, o título, a jurisdição, etc. O escudo adoptado pelo Papa Bento XVI tem uma composição muito simples: tem a forma de cálice, que é a mais usada na heráldica eclesiástica (outra forma é a cabeça de cavalo, que foi adoptada por Paulo VI). No seu interior, variando a composição em relação ao escudo cardinalício, o escudo do Papa Bento XVI tornou-se: vermelho, com ornamentos dourados. De facto, o campo principal, que é vermelho, tem dois relevos laterais nos ângulos superiores em forma de "capa", que são de ouro. A "capa" é um símbolo de religião. Ela indica um ideal inspirado na espiritualidade monástica, e mais tipicamente na beneditina. Várias Ordens ou Congregações religiosas adoptaram a forma "de revestimento" no seu brasão, como por exemplo os Carmelitas e os Dominicanos, mesmo se estes últimos o usavam unicamente numa simbologia mais primitiva que a actual. Bento XIII, Pedro Francisco Orsini (1724-1730), da Ordem dos Pregadores, adoptou a "cabeça dominicana", que é branca ornamentada de preto.
O escudo do Papa Bento XVI contém simbolismos que ele já tinha introduzido no seu brasão de Arcebispo de Monastério e Frisinga e depois de Cardeal. Contudo, na nova composição, eles estão agora ordenados de modo diverso. O campo principal do brasão é o central, que é vermelho. No ponto mais nobre do escudo, encontra-se uma grande concha de ouro, a qual tem uma tripla simbologia. Primeiro, ela tem um significado teológico: pretende recordar a lenda atribuída a Santo Agostinho, o qual encontrando um jovem na praia, que com uma concha procurava pôr toda a água do mar num buraco cavado na areia, lhe perguntou o que fazia. Ele explicou-lhe a sua vã tentativa, e Agostinho compreendeu a referência ao seu inútil esforço de procurar fazer entrar a infinidade de Deus na limitada mente humana. A lenda possui um evidente simbolismo espiritual, para convidar a conhecer Deus, mesmo se na humildade das inadequadas capacidades humanas, haurindo da inexauribilidade do ensinamento teológico. Além disso, a concha é usada há séculos para indicar o peregrino: simbolismo que Bento XVI quer manter vivo, no seguimento das pegadas de João Paulo II, grande peregrino em todas as partes do mundo. A casula por ele usada na solene liturgia do início do seu Pontificado, no domingo, 24 de Abril, tinha bem evidenciado o desenho de uma grande concha. Ela é também o símbolo presente no brasão do Antigo Mosteiro de Schotten, perto de Regensburgo, na Baviera, ao qual Joseph Ratzinger se sente espiritualmente muito ligado.
Na parte do escudo denominada "capa", encontram-se também dois símbolos provenientes da Tradição da Baviera, que Joseph Ratzinger, ao tornar-se em 1977 Arcebispo de Mónaco e Frisinga tinha introduzido no seu brasão arquiepiscopal. No ângulo direito do brasão (à esquerda de quem olha) está uma cabeça de mouro (ou seja, de cor escura), com lábios, coroa e colar vermelhos. É o antigo símbolo da Diocese de Frisinga, que surgiu no século VIII, tornando-se Arquidiocese Metropolitana com o nome de Mónaco e Frisinga em 1818, depois da Concordata entre Pio VII e o Rei Maximiliano José da Baviera (5 de Junho de 1817). A cabeça de Mouro não é rara na heráldica europeia. Ela aparece ainda hoje em muitos brasões da Sardenha e da Córsega, e também em vários brasões de famílias nobres. Também no brasão do Papa Pio VII, Barnabé Gregório Chiaramonti (1800-1823), se encontravam três cabeças de Mouro. Mas o Mouro na heráldica itálica em geral tem à volta da cabeça uma tira branca, que indica o escravo que foi libertado, e não é coroado, enquanto que na heráldica germânica é coroado. De facto, na tradição bavarese a cabeça de Mouro aparece com muita frequência, e é denominada caput ethiopicum, ou mouro de Frisinga.
No ângulo esquerdo da parte superior, está representado um urso, de cor escura (ao natural), que carrega no seu dorso um fardo. Narra uma antiga tradição que o primeiro Bispo de Frisinga, São Corbiniano (nascido por volta de 680 em Chartres, França, e falecido a 8 de Setembro de 730), tendo-se posto em viagem a cavalo rumo a Roma, ao atravessar uma floresta foi atacado por um urso, que lhe devorou o cavalo. Contudo, ele conseguiu não só aplacar o urso, mas carregar nele a sua bagagem fazendo-se acompanhar por ele até Roma. Por isso o urso é representado com um fardo sobre o dorso. A fácil interpretação da simbologia quer ver no urso domado pela graça de Deus o próprio Bispo de Frisinga, e costuma ver no fardo o peso do episcopado por ele carregado.
Por conseguinte, o escudo do brasão papal pode ser descrito ("nobre") segundo a linguagem heráldica do seguinte modo: "De vermelho, revestido de ouro, até à concha do mesmo; o ângulo direito, com a cabeça de Mouro ao natural, coroada e com colar vermelho; o ângulo esquerdo, com o urso ao natural, decorado e carregado com um fardo vermelho, cinturado de preto".
O escudo tem no seu interior como descrevemos as simbologias ligadas à pessoa que com ele se distingue, aos seus ideais, tradições, programas de vida e aos princípios que o inspiram e guiam. Os vários símbolos do grau, da dignidade e da jurisdição do indivíduo estão colocados em volta do escudo. É tradição, desde tempos imemoráveis, que o Sumo Pontífice tenha no seu brasão, em volta do escudo, as duas chaves "decussadas" (ou seja, colocadas em forma de cruz de Santo André), uma de ouro e a outra de prata: interpretadas por vários autores como símbolos do poder espiritual e do poder temporal. Elas estão colocadas atrás do escudo, ou acima dele, afirmando-se com certa evidência. O Evangelho de Mateus narra que Cristo dissera a Pedro: "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra, será desligado no céu" (cap. 16, v. 19). Por conseguinte, as chaves são o símbolo típico do poder dado por Cristo a São Pedro e aos seus sucessores. Portanto, elas encontram-se justamente em cada brasão papal.
Na heráldica civil existe sempre em cima do escudo um ornamento para a cabeça, normalmente uma coroa. Também na heráldica eclesiástica acontece o mesmo, evidentemente de tipo eclesiástico. No caso do Sumo Pontífice desde os tempos antigos representa-se uma "tiara". No início, ela era um tipo de "barrete" fechado. Em 1130 foi acompanhado por uma coroa, símbolo de soberania sobre os Estados da Igreja. Bonifácio VIII, em 1301, acrescentou uma segunda coroa, na época do confronto com o Rei da França, Filipe, o Belo, para representar a sua autoridade espiritual superior à civil. Foi Bento XII, em 1342 que acrescentou uma terceira coroa para simbolizar a autoridade moral do Papa sobre todos os monarcas civis, e reafirmar a posse de Avinhão. Com o tempo, perdendo os seus significados de carácter temporal, a tiara de prata com as três coroas de ouro permaneceu para representar os três poderes do Sumo Pontífice: de Ordem sagrada, de Jurisdição e de Magistério. Nos últimos séculos, os Papas usaram a tiara nos pontificados solenes, e em particular no dia da "coroação", no início do seu pontificado. Paulo VI usou para tal função uma preciosa tiara que lhe fora oferecida pela Diocese de Milão, como já tinha feito para Pio XI, que depois a destinou para obras de beneficência e teve início o uso corrente de uma simples "mitra" (ou "mitria"), por vezes enriquecida com decorações ou gemas. Contudo ele deixou a "tiara" juntamente com as chaves decussadas como símbolo da Sé Apostólica.
Hoje a cerimónia com a qual o Sumo Pontífice inaugura solenemente o seu Pontificado já não se chama "coroação", como se dizia no passado. A plena jurisdição do Papa, de facto, inicia a partir do momento da sua aceitação da eleição feita pelos Cardeais em Conclave e não por uma coroação, como acontece com os monarcas civis. Por isso, essa cerimónia chama-se simplesmente solene início do seu Ministério Petrino, como aconteceu para Bento XVI, a 24 de Abril passado.
O Santo Padre Bento XVI decidiu não usar mais a tiara no seu brasão oficial pessoal, mas colocar só uma simples mitra, que não é portanto encimada por uma pequena esfera e por uma cruz como era a tiara. A mitra pontifícia representada no seu brasão, em recordação das simbologias da tiara, é de prata e tem três faixas de ouro (os três mencionados poderes de Ordem, Jurisdição e Magistério), ligados verticalmente entre si no centro para indicar a sua unidade na mesma pessoa.
Um símbolo totalmente novo no brasão do Papa Bento XVI é a presença do "pálio". Não é tradição, pelo menos recente, que os Sumos Pontífices o representem no seu brasão. Contudo, o pálio é o distintivo litúrgico típico do Sumo Pontífice, e aparece com muita frequência em antigas representações papais. Indica o cargo de ser pastor do rebanho que lhe foi confiado por Cristo. Nos primeiros séculos os Papas usavam uma verdadeira pele de cordeiro apoiada sobre os ombros. Depois, passou a ser costume uma estola de lã branca, tecida com lã pura de cordeiros criados para essa finalidade. A estola tinha algumas cruzes, que nos primeiros séculos eram pretas, ou por vezes vermelhas. Já no IV século o pálio era um distintivo litúrgico próprio e típico do Papa. O conferimento do pálio por parte do Papa aos Arcebispos metropolitas teve início no século VI. A obrigação por parte deles de postular o pálio depois da sua nomeação é confirmada desde o século IX. Na famosa longa série iconográfica dos medalhões que, na Basílica de São Paulo, reproduzem a efígie de todos os Papas da história (mesmo se particularmente os mais antigos são de feições idealizadas) muitíssimos Sumos Pontífices são representados com o pálio, particularmente todos os Pontífices entre os séculos V e XIV. Por conseguinte, o pálio é o símbolo não só da jurisdição papal, mas também o sinal explícito e fraterno da partilha desta jurisdição com os Arcebispos metropolitas, e mediante eles com os Bispos seus sufragâneos. Portanto ele é sinal visível da colegialidade e da subsidiariedade. Também vários Patriarcas Orientais usam uma forma antiquíssima, muito semelhante ao pálio, chamada omophorion.
Na heráldica geral, quer civil, quer eclesiástica (particularmente nos graus inferiores) é costume colocar por baixo do escudo um nastro, ou cartaz, que tem gravado um mote, ou distintivo. Ele contém numa só ou em poucas palavras um ideal, ou um programa de vida. O Cardeal Joseph Ratzinger tinha no seu brasão arquiepiscopal e cardinalício o mote: "Cooperatores Veritatis". Ele permanece como sua aspiração e programa pessoal, mas não está no brasão papal, segundo a comum tradição dos brasões dos Sumos Pontífices nos últimos séculos. Todos recordamos como João Paulo II citava com frequência o mote "Totus tuus", mesmo se não estava no seu brasão papal. A falta de um mote no brasão papal não significa falta de um programa, mas simplesmente abertura sem exclusões a todos os ideais que derivam da fé, da esperança e da caridade.

Dom Andrea Cordero di Montezemolo
Núncio Apostólico

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